Senta-se numa cadeira Levantar um peso do chão Olhar para trás, sobre os ombros Permanecer em pé Calçar um sapato Para qual dessas simples ações do cotidiano você diria que o uso da força abdominal está envolvido? Se eu disser que para TODAS elas nós precisamos daforça abdominal, podemos ter a dimensão da importância da saúde e consciência do uso da força do abdômen para nossa qualidade de vida. |
Pois bem, é sobre isso mesmo que venho falar hoje: força e contração abdominais na Dança do Ventre.
Felizmente, observo que nos últimos anos, com o grande número de praticantes de Pilates e Yoga, muitas alunas conseguem fazer essa transposição do uso da força do abdômem para a prática da Dança do Ventre. Porém ainda é um território que gera muita dúvida. Aos longo desses mais de 13 anos em que dou aulas, vejo o quanto a desconexão com a força do abdômem é uma questão presente nos palcos e na sala de aula, desde o Iniciante até o Profissional.
As dúvidas em torno desse tema não são uma exclusividade das mulheres que estão fora de forma, com sobrepeso, sedentárias ou que nunca tenham praticado dança. É comum alunas que praticam outras atividades corporais, com corpos tonificados e flexíveis, ou ainda com longo histórico de aprendizado de diferentes estilos de dança, que não conseguem fazer a relação da presença e consciência da força abdominal com a movimentação da Dança do Ventre. Então, como estabelecer essa ligação?
Bailarinas que sabem se utilizar da contração abdominal, de uma maneira geral: - Tem uma melhor postura - Maior isolamento do movimentos - Mais elegância e leveza no tronco e braços - Maior conexão com a pressão e trabalho dos pés - Sabem estabelecer diferença na execução de movimentos alongados e contraídos - Capacidade de equilíbrio mesmo em situações de meia-ponta, giros e grandes deslocamentos | Bailarinas em desconexão com a contração abdominal, em geral: - Tem problemas associados à postura e equívocos nas tentativas de corrigí-la - Movimentação em bloco (sem dissociação entre bacia e tronco) - Incapacidade de execução de movimentação sutil a partir da bacia - Extremos no sistema de organização dos braços e tronco: ou muito rígidos ou absolutamente sem sustenção - Trazem problemas na relação com os pés (distância, ângulo) e na sua qualidade de pressão (muito brutos ou sem firmeza) - Tem sérias questões envolvendo equilíbrio, mudança de direção no espaço ou nos deslocamentos - Podem mostrar esforço demasiado na relação com os braços, ombros epescoço |
Em primeiro lugar, identifico uma dificuldade em entender "como fazer a força", e "no como aplicar a força". E por isso elenco a seguir alguns dos equívocos mais comuns, e algumas dicas para tentar elucidar o tema.
- Na tentativa de contrair o abdômem, a aluna encolhe a barriga, o que interfere diretamente na dinâmica da respiração. Olhe-se no espelho quando encolher a barriga. É possível ver um ponto central logo abaixo das costelas se retraindo. Pois bem. Isso acontece porque ao fazer esse movimento, interferimos também na movimentação do diafragma. A contração do abdômem deve partir do baixo ventre (toque seu abdômem logo acima do osso púbis, e tente perceber se consegue estabelecer contração desde esse ponto), ancorando a força do seu abdômem como um todo.
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Como podemos observar com as figuras acima e ao lado, existem três possibilidades para a posição da bacia: 1) Encaixe, 2) Desencaixe e 3) Neutra Para as alunas que tem a bacia desencaixada (Posição 2) ou tendendo ao desencaixe na maior parte do tempo (hiperlordótica, numa curvatura mais acentuada da coluna lombar), terão sim de fazer a contração com leve encaixe, |
Mas para aquelas que não estão com a bacia em hiperlordose, mas apenas com a musculatura da barriga excessivamente relaxada, terão apenas de contrair o abdômem, sem no entanto mudar o ângulo da bacia (Posição 3).
E existirão ainda aquelas alunas que tem a posição da bacia já demasiadamente encaixada (Posição 1), e que assim terão de desencaixar levemente (mantendo a contração abdominal), para somente então chegar na posição neutra, inicial (Posição 3).
Cada caso é um caso! Você tem de descobrir qual é o seu, para fazer a correção adequada.
E atenção professoras: quadril encaixado é uma posicao de pouquíssima mobilidade da bacia. Cuidado com esse orientação genérica para que todas as alunas "encaixem" o quadril.
É como se a aluna fosse "reaprender" a executar todo o vocabulário da Dança do Ventre, tendo como princípio a contração e o estado de presença da musculatura abdominal em sua execução.
- Como ja dito em outro post: "Quem é bailarina, é bailarina 24 horas por dia."
Não importa se o seu envolvimento com a dança é no nível profissional ou apenas como hobby. O envolvimento COM O SEU CORPO é uma relação para o resto da vida.
Fique atenta à sua contração abdominal durante todo o dia, e não somente na sala de aula ou no palco. Perceba se você não solta o abdômem jogando toda a pressão sobre a lombar, ou se você não joga todo o peso sobre uma articulação do quadril, fazendo grande pressão de um trocânter sobre os ligamentos (lugar do culote), ou se ainda você não hiper extende os joelhos e projeta a bacia pra frente. Enfim... como anda a sua força abdominal no dia-a-dia? Não preste atenção ao seu corpo somente na hora da aula de dança, de ginástica, de musculação.
- Nas aulas ou nos seus estudos, fique atenta ao desenho da sua cintura. Você consegue ver a distância entre a crista ilíaca (vide imagens) e o gradeado das costelas em dinâmicas de alongamento e contração? Alunas com adequada conexão com a força do abdômem, conseguem alongar e contrair movimentos na região da cintura com tranquilidade (como acontece num "8 para cima", por exem plo). |
Dores na costas, nas articulações do quadril, joelhos e até mesmo nos ombros e pescoço podem ser indicadores de que partes indesejadas do corpo trabalharam sem sua consciência. Costumo falar para as alunas que ao perceber um ponto de desconforto no corpo, tente se ligar imediatamente na força abdominal. O momento em que subimos os ombro, endurecemos o pescoço ou travamos o joelho, geralmente é o momento em que também nos desconectamos da força do abdômem. Fique atenta!
A pretensão desse post não é solucionar esse problema, mesmo porque a linguagem escrita tem infinitas limtações quando o assunto é a vivência do corpo e o aprendizado sobre ele. Mas sinceramente espero que alguns dos pontos levantados sirvam como dicas para quem está nessa busca. E para aquelas que ainda estão sendo apresentadas a esse tema, que esse texto possa servir como "uma pulga atrás da orelha", incitando a pesquisar, buscar, procurar, perguntar. Que assim seja! Um beijo grande, Elis |