Oi gente, O post de hoje já estava na minha cabeca há tempos... Eu sempre resvalo nesse assunto pelo Facebook ou mesmo pelos post aqui. Mas hoje resolvi escrever de forma mais clara. E para tanto terei devoltar no tempo um pouquinho.... A idéia de começar a escrever o blog partiu de diversas motivações: |
- conectar-me à novas pessoas pela via escrita
Mas principalmente: sublimar minhas angústias, pensamentos, alegrias, inquietações dentro do que eu identifquei como sendo uma nova fase minha dentro da minha carreira.
Hoje, olhando um pouco para trás, identifico que foi em 2010 que comecei a trilhar um caminho mais autoral. Esse foi o ano em que me desliguei da Khan el Khalili (espaço esse onde eu aprendi a ser bailarina e onde dançava desde 2001). Em 2010 tambem fiz minha segunda viagem ao Egito (quando refleti demais sobre os caminhos profissionais da dança, as imposições dos mercados dos festivais e de todo o business envolvido, que nem sempre favorece a qualidade, e muito menos a individualidade da profissional).
Esses dois fatos aliados ao crescimento da demanda do meu trabalho pelo Brasil, me deixaram cada vez mais voltada "para a minha forma de trabalhar". Quando em 2011 me mudei do Brasil para a Inglaterra, esse processo de "isolamento dentro do meu próprio trabalho" se fez ainda mais expressivo - num ambiente novo, diante de um mercado desconhecido, senti que ter clareza a respeito do meu próprio trabalho (estilo, metodologia de ensino, opção estética) era imperativo para me inserir nesse novo campo.
Para quem conhece o meu trabalho, ou para quem já foi minha aluna, sabe que defendo a idéia de que cada uma pode e deve construir sua própria dança, baseada no seu universo de inspiração e de práticas corporais próprias. Acredito, de fato, que cada mulher pode imprimir sua marca pessoal no seu trabalho de dança.
No entanto, a partir do momento em que comecei a debater idéias relativas a esse tema (a individualidade na dança) nas redes sociais e principalmente aqui no Blog, me surpreendi demais com o retorno das pessoas. Dentre eles, destaco:
- Esse assunto definitivamente não é muito conversado, a ponto de muitas mulheres me parabenizarem pela iniciativa (Achei isso louco!)
- Como não é um assunto debatido, muitas bailarinas nunca se quer se questionaram a respeito, mesmo após longos anos de dança, e assim se sentem perdidas/inseguras diante da possibilidade de "uma dança que não seja ditada por alguém"
- São muitas as mulheres que estão fartas de gastarem tempo, energia e dinheiro tentando se encaixar em padrões e fórmulas que não atendem às suas expectativas individuais; não passam de meras imposições comerciais do mercado
O "Mercado Pop" é o meio que assistimos via Facebook. Mercado esse em que eu também me incluo (a partir do momento em que vendo workshops e cursos). Mas será que todo mundo se encaixa nesse mercado? Será que a Dança do Ventre é só isso? E será que esse mercado tem como absorver todo esse volume de pessoas? Com certeza, precisamos repensar!
Quando eu comecei a fazer aulas em 1999 as possibilidades de locais para dançar e dar aulas eram infinitamente mais restritas que hoje. Os eventos com a presença de bailarinas estavam diretamente conectados à comunidade Árabe, e não existia um mercado de aulas aberto em academias de ginástica ou clubes, por exemplo.
No entanto, nessa minha trajetória como professora, conheci alunas que vivivam parcialmente ou integralmente da dança, trabalhando em nichos diversos: além dos estúdios especializados em dança, das academia de ginástica e clubes, também hoje existem os grupos para terceira idade, crianças, trabalhos sociais e dentro de empresas, reabilitação e dança inclusão. Nichos diferenciados onde também profisionais de outras áreas (como educadoras físicas, psicólogas, assitentes socias, fisioterapeutas, terapeutas corporais) unem conhecimentos de suas especialidades aos da dança. Sem falar nos artistas de outros estilos de dança e outras formas de arte, promovendo constante troca de informação artística e cultural entre essas linguagens, e assim produzindo novas formas de trabalhar como performers e/ou educadores.
Os exemplos acima citados não fazem parte do meu campo de trabalho, mas não tenho como não observar o crescimento das áreas de expansão da Dança do Ventre nos últimos anos, pelo expectro de atuação de minhas alunas e outras profissionais.
Mas mesmo para aquelas que não se interessem em trabalhar num "ramo alternativo da Dança do Ventre". Mesmo para quem quer ministrar aulas e organizar seus eventos de alunas, buscando o crescimento como professora e bailarina "em moldes tradicionais", posso afirmar que "há vida fora da Terra" para essas pessoas também. Hoje, graças à tecnologia, temos um fortíssimo aliado no YouTube para divulgar trabalhos de qualidade, sem que esses, necessariamente tenham o aval de uma nome conhecido.
O mercado de Dança do Ventre do Brasil mudou demais nos últimos 10 anos. E certamente continuará se transformando. No entanto, muitas vezes vejo mulheres de talento frustradas e sem perspectiva dentro da dança, pois não conseguem enxergar novos caminhos e possibilidades. Ficam insistindo em modelos que já até cairam por terra, tentando moldar sua dança à imposições, no mínimo, discutíveis. O resultado disso: o mercado que não absorverá essa bailarina que de fato não está 100% dentro da proposta, e a bailarina ficará fatalmente frustrada por não ser acolhida pelo mercado, e mais ainda por estar indo contra suas verdades.
Trilhar o próprio caminho definitivamente não é a opção mais fácil. E digo isso por mim - que a cada vez que escrevo um post como esse, me indisponho com um caminhão de pessoas que tentam formatar a Dança do Ventre, única e exclusivamente, dentro do "Mercado Pop".
Porém, essa foi e é minha escolha. E vou arcar com as responsabilidades dela... Porque eu quero mais da dança!
Tenho que repetir aqui algo que já escrevi várias outras vezes: a Dança do Ventre tem de estar nas mãos das bailarinas e professoras. Apenas quem vive o dia-a-dia das aulas, estudos, dedicação, investimento financeiro e privações diversas tem propriedade para ditar as regras do seu próprio caminho. E sinceramente, até pouco mais de 2 anos atrás me sentia só nessa caminhada... Mas cada vez mais identifico esse questionamento latente nas mulheres.... Mesmo que ainda de forma inconsciente.
Como diz a música do Lulu Santos: "Por isso eu quero mais Não dá pra ser depois Do que ficou pra trás Da hora que já é! Beijo grande e boa semana. Aguardo seus comentários. Elis | |