Elis Pinheiro
DANÇA DO VENTRE
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O Papel e o Lugar da Dança na Vida de Cada Uma

13/10/2014

3 Comments

 
Olá a todos!
O post de hoje foi motivado por recentes acontecimentos, mas principalmente pela experiências que vivi nesse último final de semana, que me fizeram "cair muitas fichas". Espero que some às suas reflexões também  ;)

Bem, tudo começou há duas semanas, desde quando o mercado da Dança Oriental da Inglaterra não pára de falar sobre um acontecimento desagradável que ocorreu dentro de um grande e tradicional festival de dança daqui: um respeitadíssimo professor Egípcio, num momento de impaciência diante da incapacidade de grande parte do grupo de seguir sua coreografia num workshop, decidiu falar sobre quanto o nível das bailarinas Inglesas era baixo, e o quanto esse fato era conhecido no meio internacional da dança. Não contente, disse que "não aguentava mais essa história de Dança por hobby", e que todas deveriam levar a dança  mais a sério.

Vocês podem imaginar o que isso rendeu... Pessoas saindo no meio do workshop, pedindo dinheiro de volta, não  aplaudindo o professor no show de gala do evento e principlamente, numa infinidade de posts e discussões nas redes sociais, que foram inflamando os comentários até o ponto da xenofobia.
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Quando os comentários chegaram a esse ponto "Não precisamos mais desses estrangeiros ensinando em território Inglês", a coisa chegou em mim. Muitas Inglesas se posicionaram contra esse argumento, não só enaltecendo o trabalho de nomes estrangeiros dentro do país (como o meu), mas também relembrando as mais alteradas de que a Dança Oriental é Oriental, e não Inglesa, e que assim a afirmação da não necessidade de professores de fora do país, era no mínimo, absurda.
Esse episodio mexeu demais com a comunidade. Foi asunto que inclusive gerou reflexão e conversa dentro de sala de aula (essa com certeza foi o melhor desdobramento do episódio). E me fez pensar demais sob diversos aspectos... Dentre eles:
  • O quanto nós, professores, temos de ter cuidado em nossas colocações, principalmente quando essas são polemicas. Como estrageira, e como alguém com um olhar de fora da comunidade, consigo entender a queixa do professor - quando comparado ao nível de países como Alemanha e Espanha, por exemplo, o nível do mercado da Inglaterra de fato é mais baixo (qualidade técnica e conhecimento da Dança de uma forma geral). No entanto, da forma como foi falada, sua colocação foi absolutamente infeliz e improdutiva.
  • O quanto as alunas, por não serem corrigidas de forma franca e honesta ao longo de uma vida de dança, ao receberem um "puxão de orelha" levaram tambén um choque de realidade e assim acabaram "over reacting" - reagindo além do necessário - diante de uma situação que não estão  acostumadas a lidar.  Essa É uma forte realidade entre as alunas aqui da Inglaterra, o que acredito também estar fortemente arraigado num components cultural - dento da Cultura Inglesa, qualquer tipo de confrontação ou coisa dita às claras é temida, e às vezes, até mesmo condenada. 
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  • O quanto o mercado de Dança Oriental precisa URGENTEMENTE repensar e rever os mecanismos de funcionamento e realização dos festivais e eventos com workshops e aulas - esse e um tópico que ja venho falando ha tempos em outros posts. Não dá mais pra colocar "mulheres com inteeresses e motivações  múltiplas perante a Dança, todas juntas e num mesmo pacote". O mercado se desdobrou nos últimos anos em diversos nichos, e é necessário reestruturar os festivais, não só para atender diferentes demandas, mas também para profissionalizar esses setores e tirar melhor proveito de cada público. É inegável que existe um enorme grupo consumidor de alunas denível  Básico/Intermediário que não visam a dança profissional ou de grande vertente técnica. Esse grande grupo não pode ser ignorado, mas sim absorvido de uma outra forma. Assim, a pessoa que não tem nível  para acompanhar um "master class" de um mestre Egípcio, teria outras opções para o seu nível dentro do mesmo festival.
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  • Qual é a motivação de cada mulher para dançar? Se não é a busca profissional (que sempre foi a minha motivação, por exemplo), o que leva mulheres de diferentes idades e culturas a investir tanto em aulas, cursos, workshops, viagens, roupas, levando em conta que a Dança nada mais é que um mero hobby? Que identificação é essa que leva grande parte delas a se envolver tanto emocionamente e financeiramente? Realmente esse é um terreno de muitas questões e respostas.
Pois bem... meus questionamentos somente aumentaram quando nesse final de semana tive duas experiências  marcantes:

PRIMEIRO
Dei aula para um grupo fechado de professoras em Kent, no Sul da Inglaterra. Esse foi, sem sombra de dúvida, o grupo de profissionais mais heterogênio e eclético que eu já trabalhei ever, a começar pela faixa etária, que ia dos 30 aos 70 anos!
O nível técnico, na minha concepção, não era o se eu esperaria de um grupo de professoras - ainda mais considerando que algumas delas tinham mais de 15 anos de experiência professional. Porém, duas coisas me chamaram demais a atenção: o nível de envolvimento e comprometimento com minha aula, que foi acima de média, e o conhecimento que elas tinham acerca da Dança era muito profundo (História, Geopolítica, Música, estilos da Dança, etc).
Todas as 10 alunas, sem exceção, já viajaram para Egito, Marrocos e Turquia para fazer aulas, participar  de Festivais e imersões culturais. Algumas delas viajam anualmente para os festivais do Egito, ou para fazer aulas particulares com alguns professores de lá.
Isso foi um tapa na minha cara! 
As conversas pré, durante e pós aula foram riquíssimas. Tenho de ser sincera em admitir que o nível de informação que elas trocaram comigo eu raramente troco com profissionais do meu próprio meio.
E daí, para cair o meu queixo de vez, ao final dos meus workshops, quando eu já estava pronta pra ir embora, vi que elas estavam se reunindo numa sala ao lado, que continha mesas e cadeiras. Perguntei se elas não iriam embora, e a organizadora disse-me que não, pois elas tinham um grupo de estudos teóricos 1 vez por mês, quando discutem assuntos relativos à Dança. O grupo se organiza num rodízio: cada uma delas é responsável por estudar um assunto por mes, para que o mesmo seja compartilhado com o grupo nesse encontro mensal. 
Outro tapa na cara!
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SEGUNDO
Terminados meu workshops, fui para um show em Salisbury onde moro, no Sudoeste da Inglaterra. Lá encontrei alunas, ex-alunas e conhecidas, além de bailarinas da Alemanha, Bélgica, Itália e Estados Unidos que também residem no Reino Unido. Num ambiente muito descontraído, o evento contou com as apresentações de alunas, profissionais e pessoas que "levam a danca como hobby".
Era uma cenário de mulheres com diferentes relações e valores perante a Dança.
Num mesmo evento existiam pessoas como eu, que vivem exclusivamente Dança, uma aluna que estava dançando  pela primeira vez depois de vencer sua batalha contra o câncer de mama, outras que levam a Dança como segunda profissão, uma aluna minha que estava dançando celebrando a sua partida para a realização de 3 meses de trabalho voluntário com as crianças albinas ameaçadas de morte na Tanzânia, uma outra aluna dançando pela primeira vez depois de um doloroso processo de divórcio, uma outra balairina dançando pela primeira vez, em anos, mostrando a barriga, depois de ter perdido mais de 15 quilos... enfim... tantas motivações, tantos universos singulares onde a Dança tem para cada uma um significado individual.

Não tive como não me sensibilizar com toda essa experiência do último sábado.
Me lembrei da frase do professor Egípcio de que "as Inglesas tem de levar a Dança mais a sério". Hoje posso dizer que aprendi que isso é muito particular, e que se cada uma de nós tiver mais consciencia do porquê que pratica essa dança, cada uma, dentro da sua verdade, poderá ter 100% de envolvimento, levando 100% a sério dentro de seus próprios objetivos.

Isso não quer dizer que a partir de agora eu vou "passar a mão na cabeça" das pessoas que vierem fazer minha aula, pois as motivações delas podem não ser as mesmas que as minhas. Pelo contrário! Acredito que quanto mais tivermos a percepcão aguçada e sensível para reconhecer e validar o diferente, mais inspiração, coragem e clareza teremos para trilhar nosso próprio caminho.

Da mesma forma como fui inspirada pelas verdades individuais, experiências e visões dessas mulheres especiais que conheci no final de semana, ter a clareza do papel e do lugar que essa Dança ocupa na minha vida, pode servir de inspiração para outras mulheres... Alunas, bailarinas, público... E assim a gente vai seguindo nessa rede infinita de relações e  influências, mas cada uma na sua história.

A busca pelo estilo próprio, a dança consciente, saber as reais motivações que fazem seguir na dança, a negação às fórmulas prontas, a fulga dos esteriótipos, a dança e trabalho autorais e tudo aquilo que nos guie para a valorização das individualidades, não será somente positivo para o indivíduo aluna/bailarina/professora/artista, mas para todo o mercado da Dança, que ganhará em criatividade, expressividade, competição saudável e riqueza de informação.


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Que nós tenhamos coragem para pegar nossas escolhas casa vez mais em nossas próprias mãos, sem delegá-las à ninguém.... Nem mesmo à Dança.

Um beijo enorme.


Elis
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Repertório Clássico da Música Árabe: É importante conhecer? - Parte II

7/10/2014

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Olá pessoal,
Dando continuidade na nossa conversa sobre o repertório clássico da música Árabe, gostaria de compartilhar uma situação que vivi nesse último final semana, e que muito me fez pensar sobre a relevância do tema desse post.


Na minha aula do último domingo em Londres, cujo tema era "Técnicas de Quadril Aplicadas ao Estilo Baladi", num determinado momento comecei a falar sobre os tipos de música e como, às vezes, nos deparamos com opiniões divergentes sobre o assunto, etc, etc. Foi então que percebi que a grande maioria estava "boiando" diante das minhas divagações musicais.
                                 Perguntei: "Meninas, vocês estão me acompanhando?".... Silêncio.

Fui tentando "puxar a língua delas", até que da inicial pergunta sobre as músicas utilizadas na Dança Baladi, surgiu uma grande discussão em tom de desabafo sobre o quanto o ensino e familiarização com as músicas  "base" do repertório da música Árabe, é negligenciado na aulas e workshops.

Uma das alunas, Carole, uma francesa que faz aulas há anos tanto na França como na Inglaterra, compartilhou sua opinião: 

"Como o que aprendemos nas aulas e workshops é "Bellydance for Westerners" - Dança do Ventre para Ocidentais - é como se grande parte das professoras partisse do princípio que, como Ocidentais, não nos interessamos pelo universo cultural/social da Dança. E sinceramente, vejo que grande parte das alunas, infelizmente, apenas está interessada no movimento em si."

Uma outra aluna completou:
"Como podemos entender o que é uma bailarina de estilo Baladi, ou ainda conseguir reproduzir esse estilo, se temos tão poucas referências sobre a música e dança Baladi originais? Fica difícil. Aqui na Inglaterra é muita fusão, e às vezes eu nem sei o que está sendo fusionado com o quê."
Ou seja, parece que a carência por mais informações referentes à música e suas influências base na Dança Oriental, é um fenômeno mundial! Comentei com elas sobre esse post no meu Blog, e todas se identificaram demais com o meu posicionamento de que  existe a necessidade de sabermos mais sobre o repertório clássico e referências tradicionais, para termos um maior entendimento da Dança como um todo, inclusive em seus desdobramentos mais modernos.

Apesar do meu post não ser sobre o Baladi, essa forma tão típica de se dançar do Egito, a situação com as alunas me mostrou o quão urgente se faz a abordagem sobre o universe musical como um todo.

Então, inspirada pelo meu final de semana,  continuo com a segunda parte da reflexão.

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Farid al-Atrash (1910 - 1974)
"O Rei do Alaúde"

Cantor, compositar, ator e instrumentista - tocava brilhantemente alaúde. De origem Síria, Farid chegou no Egito na infância, país onde teve uma carreira de sucesso por mais de 40 anos.
De uma família onde muitos tinham envolvimento com a Arte (sua mãe e irmã eram cantoras, por exemplo), Farid ficou conhecido por suas músicas românticas, apesar de também ter composto músicas de cunho religioso e patriótico.
Em suas apresentações, um dos pontos altos era o mawwal - improviso que acontece geralmente no início da música, quando o cantor prolonga o som das vogais para demonstrar virtuosismo, misturado a algumas frases poéticas.

Esses momentos de improvisação chegavam até a 15 minutos de duração, para delírio dos fãns.
Em muitas de suas aparições no cinema, contracenou com Samia Gamal, com quem teve um longo relacionamento, mas que, segundo rumores, terminou quando Farid disse que não poderia se casar com uma dançarina, pois não receberia apoio de sua família.
Fez composições para as grandes cantoras Warda e Sabah. 
Faleceu em Beirute, no Líbano, depois de lutar por 30 anos contra problemas de coração.



Fairuz (1935:  78 anos)
Nohad Haddad, a Fairuz, é uma das mais respeitadas artistas vivas do mundo Árabe. Conhecida por cantar sobre as belezas, paz e liberdade de seu país, o Líbano! Se casou com o produtor de rádio Assi Rahbani, que foi quem descobriu seu talento. 
Na década de 60, ela era uma cantora altamente respeitada e com a carreira estabelecida em seu país, graças também à parceria com seu marido que compunha suas músicas.
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Juntos eles tiveram uma carreira de sucesso por mais de 30 anos, na qual além dos grandes shows e concertos, também construíram em parceria o chamado Teatro Musical Árabe - uma mistura entre poesia, canto e diálogos inseridos num universo musical, que ia desde o Folclore tradicional Libanês, até as orquestrações clássicas com influências ocidentais.
Fairuz sempre fazia o papel principal, cantando e atuando ao lado de grandes atores do Líbano. Para nós, da Dança, esses musicais traziam grandes coreografias de grupos de Dabke (vide video acima).
Durante todo o tempo em que durou a Guerra Civil no Líbano (1975-1990), Fairuz continuou sua carreira no exterior e ganhando ainda mais admiração dos libaneses por suas músicas de cunho político e de dor perante os horrores da guerra.
Para quem lê em Inglês, não deixe de visitar:  http://fairuzonline.com/


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Warda Al-Jazairia (1939 - 2012)

Nascida na França, filha de mãe Libanesa e pai Argelino, a tradução literal de seu nome é Warda a Argelina. Começou a cantar aos 11 anos de idade, porém foi proibida, por seu marido, de continuar cantando assim que se casaram em 1962.
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O casamento durou até a comemoração da independência da Argélia em 1972, quando Warda foi convidada para cantar junto a orquestra do Cairo.
Com o fim do casamento, ela se mudou para o Egito e passou a se dedicar integralmente à sua carreira, trabalhando em parceria com grandes compositores. Para nós da Dança, comumente associamos a voz de Warda com canções com Batwaness Beek, Akdheb Aleik e Esmaooni.
Faleceu em 2012 no Cairo, devido a problemas de coração, aos 72 anos.

Por questão de gosto, e talvez também por ter estudado vários outros estilos de dança, eu gosto das músicos modernas e de suas inter-faces com as fusões. Na rotina das aulas, e inegável como, muitas vezes, as músicas modernas e comerciais tem o poder de animar e fazer com  que a aluna se conecte, se identifique com a proposta do movimento.

Mas ao mesmo tempo, quando eu escuto músicas no estilo das dos links acimas sugeridos, me sinto transportada para um universo tão único, tão diferente das minhas referências de mulher Ocidental, Brasileira nascida na década de 1980, que não tenho como não me sentir curiosa/motivada/inspirada.

A delicadeza de um qanoum, a dramaticidade da orquestração dos violinos ou o cantor alongando uma nota mais que o comum, transmitindo sentimento e virtuosismo são componentes da música que, na minha opinião, interferem definitivamente na experiência do movimento dançado.

Sensibilizar a aluna para uma riqueza maior de sons, a auxiliará a entender como determinadas bailarinas escutam, e assim interpretam a música através dos movimentos. Mais informações referentes às referências musicais base - principais instrumentos, cantores, compositores - darão mais base para o endimento dos posteriores desdobramentos da música e da dança, assim como para a compreensão das diferenças e singularidades entre a Dança do Ventre produzida nos países Árabes e nos países do Ocidente.

Grande nomes como a contora Libanesa Sabah, o incrível cantor Sírio Sabah Fakhri, o cantor Libanês Melhen Barakat ou o "King of Tarab", o cantor Sírio Nour Mehanna, ficaram de fora dessa minha breve análise, mas todos também com grande importância no cenário do Repertório Clássico da música Árabe, e de suma relevância no nosso processo de aprendizado.

De coração, espero que esses dois posts (Partes I e II) possam ter inspirado alunas mas, principalmente, professoras a buscar as referências mais antigas da música Árabe que utilizamos dentro da Dança do Ventre, e assim se apaixonar ou (re)apaixonar por esse universo.
E para fechar com chave de ouro, deixo aqui um link do Nour Mehanna, o "Rei do Tarab", para o total deleite de nossos sentidos.

Um bj enorme,
Elis
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Repertório Clássico da Música Árabe: É importante conhecer? - Parte I

29/9/2014

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Quer presentear uma bailarina ou estudante de Dança  do Ventre? Dê músicas novas a ela. 
A maioria de nós é doente por uma coletânea nova. Quando vou a um workshop e adquiro um cd novo, ou quando qualquer música que eu desconheço chega até mim, quero escutá-lá compulsivamente e "testá-la" no corpo. 
A música faz parte do meu dia-a-dia... Não só nas aulas e nos meus estudos, mas também no carro, na cozinha, na hora do banho... Tudo na minha vida tem trilha sonora.
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Quando comecei a fazer aulas (pasmem vocês), algumas professoras ainda vendiam fitas cassetes... Pois é, minha gente, sou dessa época!... E não era uma questão de atraso tecnológico do Brasil, pois cheguei a fazer workshops internacionais nos quais as professoras trouxeram fitas cassetes para vender.

Há uns dias atrás conversando com uma experiente professora de Dança Oriental daqui da Inglaterra, ela me contou uma história incrível: em 1990, quando ela começou a fazer aulas, ela encomendava fitas cassetes de um revendedor de artigos para dança de Berlim, na Alemanha, que por sua vez fazia o pedido a um vendedor no Egito. Pois bem, segundo ela, uma fita cassete nova levava de 30 a 40 dias pra chegar no interior da Inglaterra!

Imaginem isso?! Esperar 40 dias por novas músicas!
Hoje num click temos acesso a milhões de opções no Itunes ou nos infinitos sites de compartilhamento. Facil, pratico e barato... as vezes ate de graca!

Mas quais serão as implicações de toda essa facilidade no acesso a novas músicas? E sobre isso que venho falar um pouco no post de hoje.

Sinto que, atualmente, muitas professoras não equilibram a utilização de músicas modernas com as do repertório mais tradicional na rotina das aulas. O interesse de muitas alunas e professoras parece girar em torno somente das "novidades". Sei disso pois, muitas vezes, percebo o desconhecimento por parte de alunas (nos mais diferentes níveis) em relação a músicas, cantores, compositores e versões que, em tese, deveriam fazer parte do repertório base de todas as bailarinas/professoras de Dança Oriental. Ou ainda, muitas que dizem não gostar de músicas tradicionais, mas na verdade adoram versões recentes de grande clássicos, sem se quer desconfiar que se tratam de músicas antigas.

Não estou querendo impor uma regra: todas nós TEMOS que saber a respeito do universo da música classica/tradicional Árabe. Essa Não é a questão. Não posso deixar de considerar as diferenças de preferência e estilo no trabalho de cada profissional. Mas acredito que até mesmo para fazer essa escolha consciente a respeito do estilo de música que norteará o seu trabalho, e imprescindível entrar em contato com o máximo de informação possível, para respaldar suas escolhas. 

Fazendo uma analogia bem simples, é como aquele exemplo da criança que diz não gostar de beringela, sem se quer nunca ter experimentado, sabe? Acredito que precisamos experimentar mais, pesquisar mais, procurar mais... E por que não ir lá atrás na linha do tempo... na fonte daqueles que influenciaram tudo o que vem sendo produzido na música Árabe nas últimas décadas?

A seguir listo de forma resumida algumas referências e informações sobre grandes nomes que fizeram história, para que possamos nos inspirar nesse universo.

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Mohammed Abdel Wahab (1902 - 1991)

Cantor, ludista e compositor Egípcio, muito criticado na sua época pela utilização de influencias ocidentais, Mohammed é considerado um inovador dentro do estilo da música Árabe Clássica (introduziu, por exemplo, o ritmo waltz (valsa) em suas composições).
Atuou em vários filmes, compôs os hinos da Líbia, Tunísia e Emirados Árabes, além de famosas composições para seu grande amigo Abdel Halim Hafez, e para a diva Umm Kulthum. De suas composições que são  grandes conhecidas das bailarinas, estão Enta Omri, Zeina,  Nebtidi el Hikaya e Msafer Wahdak.

Hino da Líbia: https://www.youtube.com/watch?v=ISbyDqRExYQ
Abdel Halim Hafez (1929 - 1977)

Ícone da música Egípcia, e considerado o primeiro cantor romântico do Egito, está entre os mais populares cantores e intérpretes Árabes. Além de cantor, era também ator, produtor de cinema, professor de música, homem de negócios e maestro.
Foi extremamente pobre na infância e cresceu em orfanatos ao lado dos irmaos, nunca se casou, realizava caridade e trabalhos voluntários diversos,  e apesar do estilo de vida simples que levava, transitava entre as elites intelectuais, de artistas e políticos do mundo Árabe.
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Durante sua carreira, foi aclamado com diversos titulos: "O rei da música Árabe", "O filho da Revolução", "A voz do povo", títulos esses trazidos à tona recentemente, quando muitas de suas músicas de cunho patriótico foram cantadas durante a Revolução de 2011 no Egito.
Dentre muitos de seus trabalhos, os que são facilmente reconhecidos por nós da dança, estão Zay el Hawa, Sawha e Mawood.


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Umm Kulthum (1898 - 1975)

De origem pobre e nascida numa vila da região do Delta do Rio Nilo, Fatima Ibrahim al-Biltaji mostrou talento excepcional para o canto desde a infância. Sempre acompanhada pela figura do pai no início da carreira, sua vida começou a mudar quando sua familia foi morar no Cairo, em 1923.
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Apesar da figura de mulher independente, em constante contato com compositores, músicos e poetas (em ambientes majoritariamente masculinos, e assim não muito bem vistos para uma mulher) manteve um estilo de vida discreto e longe da vida boemia.
A consolidação de sua carreira se deveu, não somente devido ao seu talento excepcional, como também pelos grandes concertos públicos que realizava (o que possibilitou a transição da música clássica elitizada para sua versão mais popular), a transmissão ao vivo de seus concertos pelo rádio, a introdução de instrumentos ocidentais em algumas composições (como o violoncelo) e o grande prestígio adquirido entre artistas, políticos e nomes influentes de todo o mundo.
Sua última apresentação foi em Dezembro de 1972. Nos 3 anos seguintes, ela lutou contra uma séria doença no fígado, e veio a falcer de um ataque cardíaco no Cairo em 1975.
As músicas clássicas/tradicionais/antigas trazem uma riqueza muito grande de sonoridade, principalmente levando em consideração o nosso ouvido ocidental (acostumado/educado com outras referências e instrumentos).

A delicadeza de um qanoun, a densidade de um alaúde, o peso de um derbake ou a leveza de uma nay só podem ser experienciados nessas músicas com maior grau de complexidade. Muitas das músicas modernas atuais são sintetizadas num teclado, que reproduz a sonoridade de muitos instrumentos, porém de forma linear e empobrecida, sem a riqueza de nuances do som do instrumento original.

Se educarmos as alunas com uma gama reduzida de estímulos sonoros, estaremos também limitando sua expressão  do movimento (partindo do princípio que a dança é a tradução do som pelo movimento). A quanto mais estímulos sonoros elas forem submetidas, a quanto mais instrumentos elas forem apresentadas, mais sensível e rica será a experiência da dança.
Saber um pouco mais sobre esse universo pode nós trazer outras vontades, questionamentos, gostos, opiniões, dúvidas... E assim vamos caminhando. Mudando e aprendendo.

Nos vemos no próximo post, com a Parte II desse assunto.

Aguardo seus comentários.
Boa semana e um abraço,

Elis
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Eu quero mais da Dança!

22/9/2014

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Oi gente,

O post de hoje  já estava na minha cabeca há tempos... Eu sempre resvalo nesse assunto pelo Facebook ou mesmo pelos post aqui. Mas hoje resolvi escrever de forma mais clara. E para tanto terei devoltar no tempo um pouquinho....

A idéia de começar a  escrever o blog partiu de diversas motivações:
- tentativa de diminuir a distância das pessoas que  já compartilhavam do meu trabalho no Brasil
- conectar-me à novas pessoas pela via escrita

Mas principalmente: sublimar minhas angústias, pensamentos, alegrias, inquietações dentro do que eu identifquei como sendo uma nova fase minha dentro da minha carreira.

Hoje, olhando um pouco para trás, identifico que foi em 2010 que comecei a trilhar um caminho mais autoral. Esse foi o ano em que me desliguei da Khan el Khalili (espaço esse onde eu aprendi a ser bailarina e onde dançava desde 2001). Em 2010 tambem fiz minha segunda viagem ao Egito (quando refleti demais sobre os caminhos profissionais da dança, as imposições dos mercados dos festivais e de todo o business envolvido, que nem sempre favorece a qualidade, e muito menos a individualidade da profissional). 

Esses dois fatos aliados ao crescimento da demanda do meu trabalho pelo Brasil, me deixaram cada vez mais voltada "para a minha forma de trabalhar".  Quando em 2011 me mudei do Brasil para a Inglaterra, esse processo de "isolamento dentro do meu próprio trabalho" se fez ainda mais expressivo - num ambiente novo, diante de um mercado desconhecido, senti que ter clareza a respeito do meu próprio trabalho (estilo, metodologia de ensino, opção estética) era imperativo para me inserir nesse novo campo.

Para quem conhece o meu trabalho, ou para quem já foi minha aluna, sabe que defendo a idéia de que cada uma pode e deve construir sua própria dança, baseada no seu universo de inspiração e de práticas corporais próprias. Acredito, de fato, que cada mulher pode imprimir sua marca pessoal no seu trabalho de dança.

No entanto, a partir do momento em que comecei a debater idéias relativas a esse tema (a individualidade na dança) nas redes sociais e principalmente aqui no Blog, me surpreendi demais com o retorno das pessoas. Dentre eles, destaco:
  • Esse assunto definitivamente não é muito conversado, a ponto de muitas mulheres me parabenizarem pela iniciativa (Achei isso louco!)
  • Como não é um assunto debatido, muitas bailarinas nunca se quer se questionaram a respeito, mesmo após longos anos de dança, e assim se sentem perdidas/inseguras diante da possibilidade de "uma dança que não seja ditada por alguém"
  • São muitas as mulheres que estão fartas de gastarem tempo, energia e dinheiro tentando se encaixar em padrões e fórmulas que não atendem às suas expectativas individuais; não passam de meras imposições  comerciais do mercado
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Paralelo aos meus questionamentos, recebo inúmeras mensagens de mulheres compartilhando suas frustrações e paixões em relacao à dança. Muitas delas, mas principalmente as que já estão envolvidadas profissionalmente, tem consciência de que desejam continuar envovidas, mas se sentem amarradas ou sem perspectivas de continuar, diante das limitações impostas pelos selos, bancas, festivais, competições e todas as formas que eu chamo de "Mercado Pop da Dança do Ventre".

O "Mercado Pop" é o meio que assistimos via Facebook. Mercado esse em que eu também me incluo (a partir do momento em que vendo workshops e cursos). Mas será que todo mundo se encaixa nesse mercado? Será que a Dança do Ventre é só isso? E será que esse mercado tem como absorver todo esse volume de pessoas? Com certeza, precisamos repensar!

Quando eu comecei a fazer aulas em 1999 as possibilidades de locais para dançar e dar aulas eram infinitamente mais restritas que hoje. Os eventos com a presença de bailarinas estavam diretamente conectados à comunidade Árabe, e não existia um mercado de aulas aberto em academias de ginástica ou clubes, por exemplo.

No entanto, nessa minha trajetória como professora, conheci alunas que vivivam parcialmente ou integralmente da dança, trabalhando em nichos diversos: além dos estúdios especializados em dança, das academia de ginástica e clubes, também hoje existem os grupos para terceira idade, crianças, trabalhos sociais e dentro de empresas, reabilitação e dança inclusão. Nichos diferenciados onde também profisionais de outras áreas (como educadoras físicas, psicólogas, assitentes socias, fisioterapeutas, terapeutas corporais) unem conhecimentos de suas especialidades aos da dança. Sem falar nos artistas de outros estilos de dança e outras formas de arte, promovendo constante troca de informação artística e cultural entre essas linguagens, e assim produzindo novas formas de trabalhar como performers e/ou educadores.

Os exemplos acima citados não fazem parte do meu campo de trabalho, mas não tenho como não observar o crescimento das áreas de expansão da Dança do Ventre nos últimos anos, pelo expectro de atuação de minhas alunas e outras profissionais.

Mas mesmo para aquelas que não se interessem em trabalhar num "ramo alternativo da Dança  do Ventre". Mesmo para quem quer ministrar aulas e organizar seus eventos de alunas, buscando o crescimento como professora e bailarina "em moldes tradicionais", posso afirmar que "há vida fora da Terra" para essas pessoas também. Hoje, graças à tecnologia, temos um fortíssimo aliado no YouTube para divulgar trabalhos de qualidade, sem que esses, necessariamente tenham o aval de uma nome conhecido.

Por isso, minha gente, preciso gritar uma coisa: 

"A DANÇA DO VENTRE É MUITO MAIS QUE COMPETIÇÕES , BANCAS E SELOS!" 

O Brasil é um pais continental, com milhares de mulheres de norte a sul praticando essa dança. Não há como encaixar toda essa diversidade em fórmulas pré-estabelecidas.
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Esses mecanismos do business da dança são de suma importância, e isso é algo inegavel: trazem à tona novidades, promovem a troca de informação com o que acontece no cenário da dança em outros países, giram a economia de quem trabalha com os subprodutos da dança (como os ateliers de figurinos, fotógrafos, revistas, produtores de DVDs, maquiadores, etc), proporcionam o intercâmbio entre os pólos de dança dos diferentes estados, fazem um mix interessante entre entretenimento/aprendizado, sem falar que apresentam a dança a novos públicos. A idéia aqui não é rechaçar esses modelos totalmente. Acredito que cada um deles tenha a seu papel. Porém, uma visão mais abrangente sobre a Dança do Ventre se faz urgente!

O mercado de Dança do Ventre do Brasil mudou demais nos últimos 10 anos. E certamente continuará se transformando. No entanto, muitas vezes vejo mulheres de talento frustradas e sem perspectiva dentro da dança, pois não conseguem enxergar novos caminhos e possibilidades. Ficam insistindo em modelos que já até cairam por terra, tentando moldar sua dança à imposições, no mínimo, discutíveis. O resultado disso: o mercado que não absorverá essa bailarina que de fato não está 100% dentro da proposta, e a bailarina ficará fatalmente frustrada por não ser acolhida pelo mercado, e mais ainda por estar indo contra suas verdades.

Trilhar o próprio caminho definitivamente não é a opção mais fácil. E digo isso por mim - que a cada vez que escrevo um post como esse, me indisponho com um caminhão de pessoas que tentam formatar a Dança do Ventre, única e exclusivamente, dentro do "Mercado Pop". 
Porém, essa foi e é minha escolha. E vou arcar com as responsabilidades dela... Porque eu quero mais da dança!

Tenho que repetir aqui algo que já escrevi várias outras vezes: a Dança  do Ventre tem de estar nas mãos das bailarinas e professoras. Apenas quem vive o dia-a-dia das aulas, estudos, dedicação, investimento financeiro e privações diversas tem propriedade para ditar as regras do seu próprio caminho. E sinceramente, até pouco mais de 2 anos atrás me sentia só nessa caminhada... Mas cada vez mais identifico esse questionamento latente nas mulheres.... Mesmo que ainda de forma inconsciente.

Como diz a música do Lulu Santos:

"Por isso eu quero mais
Não dá pra ser depois
Do que ficou pra trás 
Da hora que já é!


Beijo grande e boa semana.
Aguardo seus comentários.

Elis
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Dor lombar e Dança do Ventre: Como conciliar?

14/9/2014

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Olá a todos,
Como prometido há duas semanas atrás no meu Facebok, trago hoje um post dedicado à saúde e às questões referentes a dores na lombar, e como esse problema pode aparecer na rotina das aulas de Dança do Ventre, tanto sob o ponto de vista da aluna como da professora.

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A lombalgia ou dor lombar é uma das principais causas de afastamente temporário do trabalho, no mundo (fiquei pasma com essa informação!!!)  Acredita-se que atinja cerca de 80% da população adulta, em diferentes proporções. Todos nós já tivemos, pelo menos uma vez na vida, algum episódio relacionado a desconforto, dor e até inflamação nessa parte do corpo. Diariamente ouvimos relatos de pessoas, nas mais diferentes faixas etárias, se queixando sobre esse problema.

Entre as principais causas estão:
  • Lordose (acentuação da curvatura entre as vertebras lombares)
  • Hérnias de disco (quando os discos intervertebrais saem do lugar ou se rompem, gerando pressão nos nervos espinhais - o que eleva a quadros de dor, cãimbras e/ou fraqueza)
  • Rigidez e fraqueza da musculatura lombar em geral, devido a diversos fatores: gravidez, obesidade, sedentarismo, má postura ou condições de trabalho (muitas horas em pé ou sentado, execução de movimentos repetitivo, ou ainda o levantamento constante de peso)
E se esse é um problema de saúde que acomete tantas pessoas, ele com certeza estará, de alguma forma, presente também nas aulas de Dança do Ventre. Sendo assim, a seguir elenquei alguns pontos simples aos quais podemos nos atentar, de forma que a prática da Dança não contribua para o aumento desse problema.
É importante frisar que a cura para a lombalgia parte do diagnóstico e tratamento corretos. As dicas a seguir são apenas instrucões referentes ao corpo e à sua performance em relação à dança,  para que alunas e professoras possam ter um melhor aproveitamento.
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Para as ALUNAS:
- Está com dores lombares persistentes? Procure a ajuda de um profissional. Além das patologias de coluna, muitas vezes problemas mais sérios, como os ginecológicos e de rins estão associados também a dores nessa região. Não marque bobeira! Além do mais, conviver com dores crônicas aumenta os níveis de stress e ansiedade.
- Chegou atrasada na aula e pedeu o alongamento? Não se jogue "à seco" nos movimentos. Vá para um cantinho da sala e alongue minimamente a coluna e os músculos da cadeia posteiror antes de começar. Dê um tempo para o seu corpo "entender" que você vai começar a dançar.
- Sua professora não dedica tempo suficiente ao alongamente, aquecimento e preparação corporal? Faça o mesmo que na situação anterior: vá para um cantinho da sala e faça o seu alongamento. Isso diminuirá as chances de você sair quebrada da aula e ter um dia seguinte cheio de dores.
- Durante as aulas, além da máxima atenção para executar os movimentos ensinados dentro do alongamento e uso de força respeitando seus limites, fique atenta ao seu abdômem. Musculatura abdominal trabalhando significa menos carga para a lombar e mais isolamento dos movimentos.
- Tem a lombar encurtada, cheia de dores... e mesmo assim ama um salto alto? Hum... A vida e feita de escolhas. Quando usamos salto alto, forçamos a curvatura lombar ainda mais na busca por equilíbrio. Se essa já é uma parte fragilizada da sua coluna, é necessário diminuir o uso, e em alguns casos abolir totalmente esse ítem do vestuário.
- Ficou com dúvidas sobre a execução do movimento? Não leve a dúvida pra casa. Movimentos mal executados não somente tem baixo nível técnico, como também podem piorar dores do lombar, articulação do quadril, joelhos, tornozelos, ou até mesmo provocar lesões nessas estruturas.


Para as PROFESSORAS:
- Sempre quando da chegada de uma nova aluna, pergunte por mais de uma vez  se ela tem problemas de saúde e/ou de postura diagnosticados (sim, mais de uma vez pois as pessoas tendem a omitir informações importantes sobre suas condições físicas). Em caso afirmativo, como problemas de joelho, hérnias de disco, lordose ou qualquer diagnóstico, certifique-se de que essa aluna tem permissão de um médico para a prática de atividade física. Professoras, não brinquem com isso! A movimentação básica  da Dança do Ventre já é extremamente desafiadora para um corpo saudável, imagine uma coluna fragilizada executando ondulações, "oitos" e redondos? 
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Exijam atestado médico de alunas que tem problemas de saúde, pois no caso de um eventual acidente, lesão ou piora do quadro, a professora pode ser responsabilizada. Imagine a dor de cabeça? Melhor não.
- Atenção máxima às alunas que executam os movimentos com a bacia totalmente desencaixada (arrebitando o bumbum), e sem contração abdominal. Elas fatalmente colocarão excesso de peso e pressão na lombar durante a execução dos movimentos. 
- Atenção às alunas com sobre peso: uma barriga grande e pesada traz sobrecarga para a lombar.
- Atenção às alunas da terceira idade: a diminuição da massa muscular, que acontece nas mulheres já a partir da faixa dos 50 anos, deixa as articulações mais frágeis.
- Alongamento e aquecimento no começo da aula, assim como alongamento e compensação no final da prática são imprescindíveis para um aprendizado saudável, levando em conta todas as estruturas do corpo. Porém, dê uma atenção a mais à lombar nas aulas em que os movimentos trabalhados demandem mais energia dela, ou ainda para os grupos em que o perfil das alunas traga essa necessidade.
- "Uma imagem vale mais do que mil palavras": certifique-se de que você, como professora, esta executando os movimentos sem comprimir a lombar, já que muitas vezes a imagem da professora como referência para o movimento a ser executado é mais forte do que os comandos ou correções verbais que ela possa fazer.
- Alunas com grande lordose geralmente tem a cadeia posterior encurtada. Sendo assim, terão a tendência de realizar a maioria dos movimentos levantando desnecessariamente os calcanhares do chão, o que resulta em movimentos menos definidos, sem equilíbrio e esteticamente não muito legais. Chame a atenção delas para a pressão e apoio dos pés.

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ALUNAS, procurem tratamento com profissionais qualificados para suas dores e desconfortos. Não maquiem a dor com analgésicos para dançar "livremente" nas aulas ou apresentações.
PROFESSORAS, procurem mais informação a respeito do corpo, para ensinar a dança de forma mais cuidadosa e consciente.

E para TODAS NÓS, vamos nos manter ligadas à todos os sinais que nosso corpo nos dá todos os dias, mas que nem sempre entendemos. Pricisamos dessa sintonia mais afinada para sermos capazes de escutar e traduzir os sinais e sensações corporais, e assim melhorar de forma sensível nossa qualidade de vida.

Optar por outros tipos de sapatos, sentar-se melhor no trabalho, prestar atenção na forma de caminhar ou aprender a postura correta para se levantar um objeto pesado do chão, são atitudes muito simples, mas que podem render menos consumo de analgésicos/relaxantes musculares, movimentos mais livres e elegantes.... e até uma aula de Dança do Ventre mais produtiva e livre de dores.
Eu quero longividade, qualidade, verdade e bem-estar... Na dança,  na vida, no corpo, nas relações, nas escolhas.... E você?

Aguardo seus comentários.... com força no abdômen, é claro!
Bj grande

Elis
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Dar aula... Por que mesmo?

1/9/2014

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Olá a todos!

Aqui na Inglaterra estamos no finalzinho do Summer Hollydays. As escolas voltarão às aulas na próxima semana, e devagarinho as pessoas vão  voltando à rotina... bem semelhante ao final das férias de Janeiro no Brasil.
Minha rotina de trabalho se modificou bastante nesse último mês, e fiquei afastada do Blog.

Volto hoje com esse texto que há muito tempo já está parcialmente escrito. Já sofreu inúmeras modificacões. Mesmo porque já escrevi um post anterior sobre algumas questões referentes a ser professora, porém a cada vez que toco novamente nessse assunto, costumo escrever/apagar algumas linhas.

Desde que escrevi: "Dançar.. Para que mesmo?", discutindo as motivações sobre a escolha de praticar a dança, já pensava na sua versão "questionando a professora". Entao, aqui vai!

O post de hoje não pretende falar sobre questões práticas, como dúvidas de professoras novatas, ou como daquelas que pretendem ingressar no mercado, sobre como saber ensinar, como manter as alunas interessadas, como saber corrigir, etc, etc.  Apesar de serem essas dúvidas recorrentes nas minhas conversas e consultorias com alunas avançadas/profissionais, acho que uma reflexão mais importante ainda vale ser considerada.

Muitas vezes observo que a maioria dessas mulheres nunca se questionaram a respeito de algo anterior a todas essas dúvidas: " Por que se tornar professora?"

Por que uma pessoa se torna médica, outra cabelereira, outra advogada, e por aí vai? As respostas podem ser muitas, mas de uma forma geral as pessoas ingressam em suas respectivas profissões por afinidade e escolha. E por incrível que pareça, essas não parecem ser sempre as motivações que encaminham muitas bailarinas para a posição de professora.
É comum eu escutar comentários do tipo:
  • "Já faço Dança do Ventre há muitos anos... Será que está na hora de eu começar a dar aulas?"
  • "Minhas amigas que começaram a fazer aulas de Dança do Ventre na mesma época que eu já estão dando aulas... Está na hora de eu começar também?"
  • "Já me foi dito que está na hora de eu "me jogar no mercado" e começar a dar aulas logo."
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Bem, observações como as acima citadas, me soam como uma mistura de ansiedade e falta de conhecimento a respeito da profissão de quem ensina (seja dança ou qualquer outra coisa).

O fato da aluna já estudar há anos um estilo de dança, apenas a capacita na performance dessa dança. O como ela vai transmitir esse conhecimento tem de ser um passo a seguir... Uma nova etapa em seu treinamento. Não importa o quão brilhante e experiente seja uma bailarina nos palcos; quando ela der início a sua profissão como professora, ela será apenas iniciante, ainda uma aprendiz no novo ofício.

Falando assim, tudo pode soar muito óbvio e claro. Mas na vida real sabemos perfeitamente que muitas mulheres pulam essas etapas e reflexão. 



Não podemos deixar de levar em conta  a parte fincaneira, já que dar aulas, para a grande parte das profissionais, é o que possibilita a compra de  figurinos, música, acessórios e novos cursos (visto que a realidade dos shows não tem uma regularidade que proporcione um ganho satisfatório).

Porém, tornar-se professora de Dança do Ventre não é a continuação natural de quem estuda a danca há muitos anos. Essa tem de ser uma escolha consciente, e que assim a colocará diante de uma nova etapa do seu aprendizado, com novas responsabilidades.

Quando eu decidi que a realiadade da sala de aula me interessava, busquei não somente o apoio e instrução das professoras de Dança do Ventre em que confiava, como também dei início a um projeto a longo prazo para me capacitar nessa profissão, que envolveram minha graduação em Dança e Movimento e posteriores cursos de formação na Escola de Reeducação do Movimento de Ivaldo Bertazzo, e da formação em DancaTerapia com a argentina Maria Fux.

Essas experiências ampliaram a minha percepcão a respeito da posição de quem ensina, como também me proporcionaram ferramentas práticas para incorporar no meu trabalho, me trazendo maior segurança e liberdade. Essas foram as minhas escolhas. Assim, você deve pensar o que dentro da sua realidade fincaneira, de tempo e de interesses, estaria disponível como possibilidade para essa sua capacitação.


Está pensando em se tornar professora, ou começou há pouco tempo nessa atividade? Deixo aqui alguns questionamentos sobre essa escolha:
  • Você já teve qualquer experiência ensinando algo fora a dança? Se não, como saber se tem o perfil para tanto?
  • Tornar-se professora partiu de uma decisão   consciente, ou foi algo circunstancial?
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  • Fora o tempo das aulas em si, você teria tempo extra disponível para preparar e estudar aquilo a ser ensinado?
  • Você tem facilidade nas relações interpessoais? 
  • Se sente à vontade em público, diante de pessoas desconhecidas?
  • Tem boa dicção e fala bem a língua Portuguesa?
  • É paciente e flexível diante de dificuldades? Tem jogo se cintura diante de situações que te desagradam?
E além disso:
  • Já fez algum curso/intensivo ou qualquer tipo de aula voltada especificamente para a prática  de ensinar?
  • Tem acesso a profissionais de sua confiança dentro da Dança do Ventre para os quais poderia recorrer em caso de duvidas?
  • Tem conhecimento mínimo a respeito do corpo humano, questões posturais e de saúde?

Enfim, não pretendo definir que a partir da resposta dessas questões, possamos criar uma fórmula para quem possa, e quem não possa ser professora. A idéia e ir além, e de fato nos perguntarmos o porquê de nossas escolhas. 


Vejo todos os dias casos diversos: professoras com baixa qualificação perdidas em como se inserir no mercado, ou  infelizes/impacientes com questões básicas do dia-a-dia das aulas ou ainda pessoas que claramente não tem o perfil para o ensino, insistindo (e sofrendo) na profissão...  E o pior... Ensinando e formando alunas.

Tána hora de virar professora? Hum... pense com cuidado.
Que possamos ter cada vez mais profissionais conscientes, dedicados e compromissados com a qualidade da Dança do Ventre no Brasil e no mundo. Se eu não  acreditar nisso, esse caminho vai ficar ainda mais árduo.

Aguardo seus comentários.
Bjao


Elis
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A Responsabilidade do Elogio

28/7/2014

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 Ao longo de minha atuação como professora de dança, sempre fui cautelosa ao fazer elogios às alunas. Isso porque desde meu início como aluna, observava situações em sala de aula onde os conceitos de elogio X correção, elogio X adquirir confiança, elogio X poder permeavam muitas vezes a relação professora/aluna, de forma equivocada.

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Também na minha formação como pessoa, sempre acreditei no elogio como demonstração de opinião a algo feito com alta qualidade, louvor, digno de aplausos. E sendo o elogio relativo a algo especial, esse supostamente nao acontece o tempo todo... sim ou não?

É claro que todas nós, quando dentro de uma sala de aula, queremos "fazer parte" daquele grupo, queremos ter a confirmação da profesora de que estamos no "trilho certo"... enfim, queremos saber se estamos desenpenhando de forma minimamente adequada os movimentos a que nos propusemos a aprender. Assim, o elogio ou a correção da professora servirão de parâmetros para que a aluna siga no aprendizado.

Mas e quando o elogio é feito a partir de outras motivações?

No atual cenário da dança, no qual ao meu ver, muitas vezes os aplausos, gritos e histeria do publico estão absolutamente banalizados, e no qual o ensino esta cada vez mais voltado para corerografias e sequências, para que assim as alunas "se sintam dançando" e não sejam incomodadas pela "chatice" da repetição e da correção técnica, todas nós (bailarinas, alunas de todos os níveis e professoras) estamos cada vez mais suscetível aos adjetivos e brados: "Linda", "Arrazou!","Luxo!", "Maravilhosa", etc.

Por parte das professoras, vejo muitas fazerem elogios de forma desmedida para manter as alunas "eternamente satisfeitas", num devaneio de que elas sempre se sentirão dançando lindamente, inpendentemente do que façam; na crença de que essas alunas optarão sempre pela professora que lhes massageie o ego, e não por aquela que possa apontar suas limitações. E é claro que esse mecanismo muitas vezes funciona.

Por parte ds alunas, vejo muitas se deixarem envolver nos elogios constantes, construindo um vínculo com a professora de cunho muito mais emocional, do que baseado naquilo que ela de fato é capaz de ensinar - já que a partir do momento em que a professora é incapaz de corrigir, suas capacidades didáticas estão absolutamente colocadas sob questionamento.

Quantas vezes nessa minha trajetoria profissional eu escutei relatos de alunas que se sentiram enganadas, "feitas de boba" ou que demoraram pra "cair na real". Após anos de aulas descobriram que nunca haviam sido objetivamente corrigidas ou tiveram seus pontos fracos apontados.
Passaram anos se movimentando na frente do espelho, mas pouco aprenderam sobre como dançar. São realmente incontáveis as histórias de mulheres que, em diferentes proporções, em algum momento sentiram que gastaram tempo, energia e dinheiro em suas aulas, para um retorno questionável.

Voltando ao titulo desse post: "A Responsabilidade do Elogio", acredito que ambas as partes tenham responsabilidade nesse processo: professora e aluna.

A aluna jamais deve depositar a responsabilidade de seu aprendizado nas mãos única e exclusivamente da professora. A professora tem sim de ser um canal, uma facilitadora desse processo, detentora de conhecimento, experiência, bagagem e sensibilidade para ensinar a dança. Mas no final das contas, não podemos nos esquecer que o aprendizado acontecerá no corpo da aluna, e cabe a essa aluna ter visão crítica, observação e conciência para availiar todo esse processo, constantemente.

Podemos receber elogios de quem for, porém como cada uma filtrará e absorverá essa informação, é uma escolha individual. Fique atenta se a professora tem um compromisso com o ensino de qualidade, ou com a forma como ela mantém as alunas conectadas a si.

Já disse isso em um post antigo, e repito: o futuro dessa dança está nas mãos de todas as suas praticantes, profissionais ou amadoras. O cenário da Dança de qualidade começa no comprometimento em ensiná-la de forma clara, cuidadosa para com o corpo da aluna e com respaldo técnico e didático. Somente assim poderemos excluir as pessoas pouco qualificadas, as profissionais poderão cobrar dignamente pelo trabalho exercido no palco e na sala de aula, as alunas terão mais garantia de qualidade ao se matricular para as aula, e quiçá... teremos nossa dança um dia também reconhecida e valorizada perante outros segmentos da Dança, das Práticas Corporais e das Artes.

Como costuma-se dizer no Facebook: "Menos mimimi." 


Que nós, professoras, tenhamos lucidez, sensibilidade e timing para que com nossas correções, apontamentos e dicas possamos auxiliar as alunas com ferramentas claras para o desenvolvimento das mesma na dança.


Que nós, alunas, tenhamos maturidade, visão crítica e foco para distinguirmos os elogios banais ou as críticas destrutivas (hum... assunto para outro post) dos apontamentos realmente válidos para o nosso crescimento.


A criança que é elogiada e amada, mas também corrigida e criticada será o adulto e cidadão capazes de lidar com o mundo. A criança apenas elogiada e incapaz que receber o "não", será o adulto eternamente mimado, com dificuldades em lidar com suas limitações.


Um bj grande e ate semana que vem.


Elis Pinheiro

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Turquia, Dança do Ventre e o Meu Olhar - Parte II

17/7/2014

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Minha geração (nasci em 1980) cresceu vendo pela mídia imagens das grandes cidades do Oriente como Beirute, Estambul, Cabul e Cairo quase sempre sendo palco de conflitos políticos e religiosos - a Guerra Civil do Líbano (1975-1990), o conflito sangrento entre curdos e turcos (1984 até hoje), o poder Talibã no Afeganistão (desde 2001) ou a recente Revolução Egípcia de 2011, dentre tantos outros.

É sabido que todos esses acontecimentos transformaram as sociedades de seus respectivos países de forma singular. Novas leis, novos códigos de conduta e comportamento foram introduzidos. As relações de poder mudaram e muito se transformou no papel da mulher no Oriente nos últimos 50 anos.

Constantemente vemos notícias sobre as limitações impostas à mulher e às relações homem e mulher nesses países, sempre ligadas ao crescimento do fundamentalismo Islâmico nos mesmos. E atualmente morando na Europa, posso afirmar que no Brasil ainda recebemos muito menos informações a respeito desse tema. Talvez pelo distanciamento geográfico e cultural, mas principlamente pelo número menor de imigrantes Árabes, Turcos, Iranianos e dos demais países que compartilham das crenças baseadas nos preceitos radicais do Islã, que circulam em terras brasileiras - quando comparado ao volume dos mesmos no velho continente.

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2013 - Estambul. Feminista recebe spray de gás
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2006 - Cabul, Afeganistão
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2012 - Beirute, Líbano
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2014 - Estambul
Dia Interncional da Mulher
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2009 - Estambul, Turquia
Além disso, diante das constantes notícias de violência, segregação e restrições à mulher, para quem vive no ano de 2014 fica difícil imaginar uma realidade de liberdade de expressão intelectual e de comportamento no universo feminino, em outos tempos, em muitos desses países. Pois bem... mas realmente nem sempre foi assim.

Só para citar alguns exemplos, o Egito tinha uma forte indústria cinematográfica nas décadas de 40, 50, 60 que exportou a Dança Oriental, mostrando mulheres atuando, dançando, cantanto, fumando. Ainda no Egito, em
Alexandria (com algumas de suas praias sendo chamadas de Saint-Tropez egípcia), as mulheres frequentavam as areias vestinho trajes de banho e interagindo livremente com os homens. Beirute era considerada a Paris do Oriente, devido a sua atmosfera cosmopolita e de grande efervescência cultural. Em Cabul, capital do Afeganistão, as mulheres frequentavam universidades e tinham liberdade de ir e vir sem precisar serem acompanhadas por nenhuma figura masculina.

Na Turquia (voltando ao nosso assunto central) a partir de 1924 (isso mesmo: 1924!!) foi implantado um extenso programa de modernização pelo então presidente Mustafa Kemal Ataturk.

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Irã, década de 70
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Turquia, 1934
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Afeganistão, década de 60
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Egito, 1939
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Afeganistão, década de 50
Atatürk é um ícone na Turquia. Ele deu às mulheres os mesmos direitos que os homens, incluindo o direito ao voto (direito esse que, na época, grande parte dos países europeus ainda não concediam). Reformou o código civil e penal e fez muitas mudanças na educação, incluindo a extinção das escolas religiosas e a introdução do alfabeto turco com grafia latina (em substituição a grafia árabe e persa).

Na minha opinião, esse passado de maior liberdade de expressão nos países do Oriente é o único motivo que possibilitou a existência ou tolerância da Dança do Ventre por tantos anos, e a possibilidade dela chegar até nós nos dias de hoje. O Egito produziu estrelas de 1930 aos anos 2000 (partindo das estrelas da Golden Era Tahyia Karioka, Samia Gamal e Naeema Akef, passando por Suhair Zaki, Naqwua Fouad, Fifi Abdo e chegando até Aida Nur, Dina e Randa Kamel). O Líbano teve suas grandes estrelas das décadas de 70 a 90, como Amani, Howaida e Samara (sem nos esquecermos de Nadia Gamal, que apesar de não ser Libanesa, projetou sua carreira fortamente no estilo libanês). E na Turquia, antes das lendárias Nesrin Topkapi e Princess Banu, não podemos deixar de mencionar Nergis Mogol e Nejla Ates.


Não teria sido possível o florescimento dessas grandes estrelas se as sociedades em que estavam inseridas não dessem espaço para mulher e para a dança; mesmo sendo a Dança do Ventre desde sempre uma expressão controversa pelo seu flerte direto com a sensualidade e liberdade femininas.

Se no Egito a dança cresceu devido ao cinema e a indústria do entretenimento dos cabarets, na Turquia muito do sucesso e projeção da Dança do Ventre aconteceu pela ascensão da televisão e dos programas de auditório. E nesse âmbito, a pessoa responsável por isso foi Ibrahim Tatlises.

Pense no Silvio Santos, com todo o seu poder de comuncador e de homem de negócios, dono de emissora e de inúmeros produtos veiculados a ela. Pense agora no Roberto Carlos e todo o carisma e posto na música popular Brasileira que ele construiu ao longo de décadas. Agora imagine se o Silvio Santos, além de tudo o que ele é, fosse também um cantor com a mesma expressividade e importância que o Roberto Carlos tem no Brasil. Pronto! Essa é a analogia que podemos estabelecer com Ibrahim Tatlises na Turquia. Ele é o cara na indústria do entretenimento.

Cantor respeitadíssimo pela sua qualidade vocal e amado pelas multidões, Ibrahim comanda há anos o Ibo Show (Ibo e o apelido carinhoso pelo qual ele é chamado) programa de auditório com entrevistas, variedades, muita música ao vivo e é claro... com Dança do Ventre também.
Se antes as apresentações de dança eram televisonadas em ocasiões especiais como nas noites de Ano Novo, ou de forma mais esporádica, com o Ibo Show a Dança do Ventre começou a ser atração constante na tv. Um novo espaço para uma nova geração de bailarinas estava consolidado. 

Outro fenômeno que foi de suma importância para a dança, foi o processo de modernização na música a partir do final da década de 70. A música tradicional turca, tão conhecida pela exploração das qualidades vocais do artista, já não era a voz de uma nova camada social que surgia.

A partir das décadas de 80 e 90, uma camada emergente começou a se formar. Pessoas vinda de várias localidades da Turquia e de países vizinhos, começaram a crescer e enriquerecer nos grandes centros, graças ao fértil campo de oportunidades de cidades como Estambul. Homens de negócios bem sucedidos e suas famílias agora faziam parte de uma importante camada de consumidores que demandavam novos serviços, produtos, moda e tendências. A então tradicional música turca soava elitista e distante para esse novo grupo, que era mais moderno e de influências culturais múltiplas.

Foi então que surgiu o estilo Arabesque - músicas cantadas em turco ou curdo, porém com orquestração e melodias Árabes. Uma revolução rechaçada no começo por muitos, mas que tomou conta do cenário pop anos anos seguintes. Na musica, o Arabesque foi responsável pelo surgimento e sucesso de grandes cantores até os dias de hoje. Na dança, possibilitou essa interface de culturas, e as bailarinas tinham mais liberdade para flertar também com o estilo árabe.


A diva da música turca Bulent Ersoy, que começou a carreira cantando os clássicos no estilo do Império Turco Otomano, se mantém há anos no mercado da música cantando também no estilo Arabesque.
Outro ícone da música turca, e muito mais nosso conhecido por nós brasileiras graças ao hit Kiss Kiss do início dos anos 2000, é Tarkan. Começou cantando o estilo clássico  turco, flertou com o Arabesque, passou por influências gregas e latinas, e nos últimos anos segue num misto eletrônico e de baladas românticas.
Transformações sociais, novos direitos para a mulher, reformas políticas, crescimento da mídia, modernização da música... apenas alguns dos aspectos que modificaram a sociedade e assim interferiram na visão a respeito, e no como a Dança do Ventre vem acontecendo na Turquia nos últimos 50 anos, até chegar as estrelas de uma nova geração: Asena e Didem.
Mas isso e conversa para o post final dessa viagem.
Nos vemos daqui há alguns dias.
Bjao


Elis

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O Mercado e a Barganha

9/7/2014

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Apesar da desvalorização do profissional da Dança ser um assunto já tantas vezes falado e discutido, eu nunca havia escrito sobre o tema. Impulsionada por recentes acontecimentos na minha vida, assim como pelas inúmeras dúvidas e conversas que tenho com as alunas (profissionais ou aspirantes a profissional) para as quais presto consultoria, decidi dar uma pausa na viagem do "Turquia, Danca do Ventre e o Meu Olhar" (se você ainda sabe dessa série de postagens, entenda o começo da história no último post), para trazer minha reflexão sobre o posicionamento que cada uma de nós deve assumir - fazendo da Dança 100% ou parcialmente profissão - para não desvalorizarmos a nossa atividade.

Não é novidade que as pessoas, de uma forma geral, não levam a Dança do Ventre a sério, e muito menos a consideram como uma possibilidade profissional. A falta de informação acerca da dança, o distanciamento cultural e o universo de descontração a que ela normalmente é
 associada, impedem que a maioria dos leigos entendam que essa seja uma forma de expressão que demande dedicação, estudo e pesquisa para ser exercida com qualidade.

Pois bem, essa deveria ser uma dúvida justificável somente para os leigos. Supondo que a pessoa não saiba absolutamente nada a respeito desse universo, dá até pra entender (fazendo bastante força para tanto) que ela acredite que a bailarina possa se contentar em se apresentar de graça, ministrar aulas ou workshops por valores irrisórios ou realizar qualquer atividade sem uma digna retribuição financeira.

Para os leigos a gente até releva, quando a falta de noção não resvala a falta de respeito. Mas quando esse tipo de conduta parte de pessoas ditas do próprio meio da Dança, a minha tolerância é zero!

É sabido que a maioria das formas de dança atravessam, sob diferentes aspectos, uma crise no número decrescente de alunas nos últimos anos. E isso não só no Brasil.

Num mundo imediatista e sob forte influência dos fenômenos da moda, fica difícil fazer com que as alunas entendam que para se aprender a fazer algo com excelência, são necessários anos e anos de dedicação. E o fato é que cada vez menos pessoas estão dispostas "perder" anos e anos aprendendo a mesma coisa.

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8 anos de Bale Clássico, 5 anos de Flamenco, 6 anos de Dança do Ventre... são contagens irreais de tempo para muitas pessoas. Não é à toa o surgimento de aulas da moda como Ballet Fitness, Zumba, Aero Jazz, Power Ballet... e tantas outras que já passaram e ainda estão por vir (motivados pelo fitness, pelas estrelas da TV, pelas marcas de roupa) mas também como novas possibilidades de entreter e manter as alunas frequentando as escolas, num mercado consumidor cada vez mais impaciente para se dedicar com afinco à uma modalidade.

O tempo para uma aluna de Dança do Ventre chegar ao nível Avançado está cada vez mais curto, e o mercado está sendo inundado por "profissionais" ingressadas de maneira precoce. O resultado disso a longo prazo? 

  • Considerável queda no nível técnico da dança
  • Ensino pobre e sem embasamento multidisciplinar
  • Profissionais sem clareza sobre as diferenças e singularidades das atividades de bailarina e professora
  • Falta de familiaridade ou mesmo desconhecimento absoluto a tudo o que se refere ao universo cultural da Dança  (música, Geopolítica, língua, costumes)
  • Falta de maturidade para ensinar a dança para diferentes públicos e demandas
... só para citar alguns pontos.

Sem falar no desconhecimento do funcionamento do mercado, a tudo o que se refere a valores, normas, hierarquia e a conduta esperada de uma profissional.  Conjunto esse de comportamentos e informação que, como em qualquer outra profissão, leva tempo e amadurecimento para cada uma aprender.

E daí que os problemas começam. Se uma pessoa não empreendeu grande tempo, energia e investimento finaceiro numa atividade, quando a mesma decidir começar a exercê-la "profissionalmente" não terá grandes expectativas do quanto ganhará por isso, certo? Afinal de contas, sua dedicação não foi grande.

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Pois bem, vemos que principalmente após o fenômeno "O Clone", temos no mercado um mosaico de profissionais da Dança do Ventre e Folclore Árabe das mais múltiplas formações, e às vezes, de questionável  experiência e competência.
É inegável que em qualquer área o nível de excelência de seus profissionais determine valores  diferentes para seus trabalhos - um arquiteto renomado não
cobrará o mesmo que um em início de carreira, assim como um cabelereiro com 20 anos de profissão não cobrará o mesmo que aquele que acabou de abrir seu primeiro salão. Porém, na Dança do Ventre não é somente esse o critério que vem balizando o mercado.

Profissionais sem qualificação ou experiência "jogam o preço lá embaixo" de aulas e de apresentações para conseguirem entrar no mercado. Enquanto que os profissionais também  recém ingressados, porém com qualidade, estudo e preparo, infelizmente se vêem muitas vezes reféns desses valores absurdos - afinal de contas apesar de sua qualidade, os mesmo ainda não possuem o nome ou experiência daqueles que cobram mais caro.

Mais revoltante ainda é ver muitos que já estão inseridos nesse mercado adotarem as mesmas estratégias irresponsáveis, na tentativa de alcançar um novo patamar ou ser convidado para novos trabalhos - aceitar a pagar a próprias despesas de transporte e acomodação para ter a chance de participar de um evento, não receber cachê só para "dizer que estava" em determinado evento, escolher cobrar mais barato única e exclusivamente para ser escolhido pelo contratante... e por aí vai.

A responsabilidade por esse mercado está  nas nossas mãos: das novatas, das mais ou menos novatas, das experientes, das que são excelência. Enfim, nas mãos das bailarinas e professoras de Dança do Ventre. Se você é novata, informe-se! Procure orientação das suas professoras e pesquise minimamente a respeito desse universo antes de entrar já cometendo gafes e deslizes e construindo uma imagem que não será positiva pra você no futuro. 
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Se você não é tão novata assim, tenha bom senso! O mercado é grande mas nem tanto. As redes sociais aproximam os extremos do mundo, e se você está trabalhando por pouco ou por quase nada, tenha certeza que as contrantes e organizadoras de eventos já sabem disso.

Que cada uma, no seu momento profissional, possa contribuir de maneira positiva para que todas nós possamos viver dignamente dos frutos financeiros dessa atividade.

E sinceramente acho que isso não seja pedir muito!


Que assim seja.

Um beijo enorme


Elis

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Turquia, Dança do Ventre e o Meu Olhar - Parte I

2/7/2014

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Ao longo da minha trajetória de 13 anos de profissão, posso dizer que tive 4 grandes momentos que trouxeram mudança de paradigma em relação a maneira como eu olhava e me relacionava com a Dança do Ventre:  2002 - Primeira viagem ao Egito.  2005 - Graduação em Dança e Movimento.  2008 - Meu casamento.  2011 - Mudança de país.

Poderia escrever um post para cada um desses eventos (e talvez ainda o faça), mas hoje escolhi falar sobre como muita coisa se transformou na minha perspectiva depois que eu me casei.     
Ãhh?...   É.    É isso mesmo.


Historicamente, as influências sobre praticamente tudo a que se refere a Dança do Ventre no Brasil (estilo, História, músicas, moda, ensino, etc), vieram do Egito. Foi o Egito que exportou para o mundo o modelo de bailarina, em sua produção cinematográfica entre as décadas de 40 e final de 70. É ainda em torno do Egito que o circuito comercial e de business se orientam - desde a década de 90 os festivais de dança que acontecem no Cairo determinam quem serão as estrelas das futuras gerações, as regras e tendências, apoiadas no discurso de ser esse o país berço da Dança Oriental, detentor de qualidade e tradição.
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Dina
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Tahia Karioka e Farid El Atrash
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Fifi Abdo
Até o começo dos anos 2000, mesmo ainda sem o advento do YouTube, sinto que o mercado brasileiro tinha mais interesse e abertura para o estilo Libanês. Talvez pelo sucesso das então estrelas libanesas da década de 90 - Amani, Samara, Howaida - e pelo não surgimento de uma nova geração tão expressiva depois delas. Mas mesmo assim, essa influência era muito menor quando comparada a da terra das pirâmides.

A partir dos anos 2000, graças ao sucesso de muitas profissionais brasileiras trabalhando nos Emirados Árabes, começamos a ter contato, pela primeira vez, sobre como era a dança nesses países, baseado em seus relatos e experiências individuais. Mas ainda assim, muito pouca informação.

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Ao lado:  Samara              Acima:  Amani
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Dessa forma, fica fácil acreditar que somente no Egito, Líbano e Emirados exista "vida" na dança  (pelo menos era assim que eu, Elis, avaliava as coisas). Vivendo do outro lado do Atlântico e sendo tão caro se deslocar para a África, Europa e Ásia, sinto que ficamos num "isolamento cultural/étnico" de toda a efervescência e trânsito de informações que acontecem no outro lado do mundo.

Pois bem. Foi então que em 2008 eu me casei com um Turco, e muito sobre a minha visão  a respeito da dança e sobre o Oriente se transformaram.

Meu marido é nascido em Estambul. Se lembram dos estudos no colégio? Estambul que um dia foi Constantinopla, capital do Império Bizantino e depois do Império Turco-Otomano...? Lembram-se? Pois bem... Lembrando, ou não, vamos lá: quem é nascido na Turquia não é Árabe. É Turco. Apesar de grandes similaridades na cultura (como na culinária, nas artes, no comportamento), a História, a língua e a posição geográfica são  absolutamente outras. Turcos e Árabes são povos distintos (e detestam serem confundidos um com o outro by the way).

E indo no assunto que nos interessa...  na Turquia, tem (muita) Dança do Ventre! As músicas, as roupas, os acessórios e principalmente o estilo são muito diferentes das referências que temos no Brasil. E é aí então que começaremos a viagem no post de hoje, pois quero compartilhar um pouco do que venho pesquisando, escutando e aprendendo desse universo nos últimos 6 anos.


Assim como em muitos outros países do Oriente, na Turquia ser bailarina de Dança do Ventre não é exatamente o sonho de nenhum pai para sua filha. Segundo meu marido, na Estambul de 10, 20, 30 anos atrás, a prática da dança era aceita com restrições. Praticar entre as amigas e família, dançar informalmente nas festas e comemorações ou ter isso como hobby era algo tolerado sem nenhum problema. Porém, fazer disso profissão, como vocês  devem imaginar, já seriam outros quinhentos.


Assim como nos relatos sobre bailarinas do Cairo e Líbano, na Turquia as mulheres que decidiam seguir na carreira de dança tinham uma das duas motivações: ou o faziam por serem mulheres à frente de seu tempo, fora dos padrões convencionalmente impostos, ou o faziam por serem prostitutas. E na Turquia, como a grande maioria que fazia essa escolha de fato estava envolvida na indústria do sexo, para as demais que tentavam trilhar um caminho apenas na dança, tudo ficava muito mais complicado (lembrando que essa dificuldade era para as mulheres que viviam nos grandes centros como Estambul e Ankara. No interior, tudo era muito mais severo).

Os lugares em que a dança profissinal tinha espaço para acontecer eram os chamados cassinos (semelhantes aos cabarets do Cairo), lugares exclusivamente frequentados por homens, com muita bebida, jogo e normalmente pontos de encontro de grupos da máfia e dos muitos grupos étnicos ciganos (o que dava espaço para frequentes brigas e muita violência). Durante anos, a Dança ficou segregada a esses meios.


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Mas apesar do olhar preconceituoso de muitos, a Dança do Ventre também ocupava, paradoxalmente, um lugar de respeito e admiração para muitos e isso era somente por causa de Nesrin Topkapi. Nascida em 1951, começou a dançar profissionalmente em 1966 logo após a morte de seu pai. Teve um início de carreira dançando nos cassinos de Londres, até que no final da década de 70 teve grande exposição na televisão turca.

Segundo meu marido, ninguém ousava dizer um "A" a respeito dessa mulher. Ela era considerada uma artista, e suas tradicionais apresentações na TV nas noites de Ano Novo eram esperadas com entusiasmo pelas famílias turcas. Ela era definitivamente respeitada e o fato de ser uma bailarina profissional não colocava sua reputação sob questionamento.
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Contemporânea a Nesrin, e absolutamente numa outra proposta e estilo, despontava ao estrelato a lenda Princess Banu. Com título de realeza devido a um rápido casamento com um Príncipe Árabe, Banu ganhou enorme projeção internacional como expoente da Dança da Turquia - apesar dela mesma sempre ter se afirmado como bailarina de estiloegípcio  (até poucos anos atrás, ela se apresentava esporadicamente no Festival Ahlan Wa Sahlam no Cairo, e cita em seu website Raqia Hassan como sendo uma de suas principais influências).

Ambiciosa, ousada e cheia de estratégias de auto-promoção, muito da fama de Princesa Banu se deveu à sua beleza, sensualidade e a seus famosos figurinos controversos. Quando perguntada sobre o motivo de dançar praticamente nua, Banu respondia que era comum na Turquia, na época, retirar a saia durante a dança (!?), e que então ela decidiu inovar dançando apenas com os mamilos cobertos (!?!?). Confira uma  das entrevistas: 
http://www.orientaldancer.net/star-interviews/belly-dancer-princess-banu.php

Como vocês devem imaginar, Banu não tinha a mesma aceitação e nem era vista com os mesmos olhos pela sociedade, como Nesrin. As duas, tendo projeção na mesma época, pareciam representar essa ambiguidade típica que a Dança do Ventre historicamente incita nas sociedades: admiração X negação, respeito X repúdio, curiosidade X reprovação.

Nesrin e Banu fazem parte de um momento importantíssimo de transição na cultura do entretenimento da Turquia, que estava intimamente ligada a ascensão econômica de novas camadas sociais, assim como com o novo e enorme poder de influência da televisão.

Mas isso já é assunto do próximo post... Nos veremos por aqui novamente, com a continuação dessa minha viagem e pesquisa pessoais, em alguns dias.

Bjao


Elis
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